segunda-feira, 3 de setembro de 2007

O Grande Chefe

Lars Von Trier é louco e fez uma comédia, uma das boas. Em O Grande Chefe ele consegue carregar, como nunca carregou antes, sua obra do mais puro cinismo; coisa que em seus filmes sobram. Dessa vez ele não resolveu abordar dramas de filhas de mafiosos (Dogville) nem colocar adultos pra babar (Os Idiotas), colocou em cena uma crítica ao comportamento dos atores no cinema. Ravn (Peter Gantaler) engana os funcionários de sua empresa dizendo que ela é comandada, dos EUA, por um chefe maior. Com isso ele cria uma crença quase divina em torno do empresário inexistente criando uma relação fictícia, virtual, com seus gerentes. Cristoffer, vivido por Jens Albinus (o chefão da trupe d’Os Idiotas) é um ator contratado por Ravn quando se torna necessário fazer uma grande negociação onde é imprescindível a presença física do “dono” da empresa.

Nesse contexto Cristoffer abraça um papel sem ter nenhuma informação básica sobre o personagem - quando começa nem sequer sabe o nome do grande chefe e se vê totalmente perdido em conflitos que vão desde o ódio que alguns dos gerentes manifestam de imediato – o que acaba em alguns bons sopapos – até uma proposta de casamento feita via e-mail que ele, sem saber do que se trata, acaba confirmando. É nessa trama que Von Trier descarrega sua metralhadora giratória crítica. Ele contesta o modo como os atores se comportam no que diz respeito a construção do personagem. Isso fica evidente pois Cristtofer acaba se envolvendo mais do que lhe fora exigido.

Reafirmando a máxima hitchcockiana: “Ator é gado”, o dinamarquês de 51 anos que foi junto com Thomas Vinterberg um dos fundadores do manifesto Dogma 95 traz reflexões sobre o cinema moderno. Seu cinema é cru, sem planos sensacionais e sem todo o glamour do meio, o que ajudou Von Trier a dispensar o diretor de fotografia e tornar os planos não tão trativos para os olhos. Porem, trabalhando sempre com temáticas que mexem com o espectador das mais diversas formas acaba por transformar a tela em uma janela onde a luz da hipocrisia não passa e sempre se tem lugar pra uma cutucada a mais em uma sociedade que Lars Von Trier parece abominar cada dia mais.

Thiago Lira

2 comentários:

i disse...

Lars von Trier é sempre sensacional!

Van disse...

Flavia, Tiago, Thiago e Peterso...
Vida longa aos bloguistas!!!!
Parabéns e bons escritos!
Beijucas
;)
PS: Adoro Von Trier!