epifania. s.f. (...) 2 aparecimento ou manifestação reveladora de Deus ou de uma divindade (...) 3.3 trabalho ou parte dele, simbolicamente, revelador (Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa)
Caio Fernando Abreu (1948-1996) foi para mim uma pequena epifania, no ano passado, com Morangos Mofados, livro fantástico de contos do autor gaúcho. Na verdade, uma amiga portuguesa já me falava de Caio Fernando Abreu e eu não havia me detido (olha, já me avisavam do moço lá do outro lado do oceano e eu nem tchuns), até que um amigo brasileiro, que trabalha na Livraria Cultura, me indicou o tal Morangos. Foi paixão à primeira lida. Os contos lidam com o amor e o ódio, com o de mais estranho e sublime que o ser humano tem, sem cair no piegas, sempre surpreendente. Destaque para o conto Aqueles Dois, duma sensibilidade imensa. Escritor nato, vindo de Santiago do Boqueirão, no Rio Grande do Sul, publica seu primeiro romance, Limite Branco, aos 19 anos, uma desconstrução das descobertas da pós-adolescência em meio aos medos e mitos próprios da idade. Limite Branco começa assim:
"Não havia mais nada, estava tudo escuro. Maurício remexia o corpo sobre a vasta e desconhecida extensão da cama, sentindo os membros descolarem-se uns dos outros. Erguia os braços e, na ponta deles, as mãos que voltavam úmidas do vazio. (...)"
Pequenas Epifanias é uma coletânea de suas crônicas para o jornal O Estado de São Paulo de 1986 a 1989. Três anos depois, pouco antes de descobrir que contraíra o vírus HIV, foi instado pelo então editor do Caderno 2, do mesmo jornal, a escrever crônicas. Essas são crônicas de uma lucidez impressionante perante a doença e as possibilidades (ou falta delas), escritos viscerais de alguém vivendo cada dia como único, como último. A partir desse momento, carpe diem virou o mote do escritor e, com maestria, conduz suas dores de forma honesta consigo, num tom "explicitamente autobiográfico e escandalosamente literária (Antonio Gonçalvez Filho, no prefácio de P. E.). Apesar da datação dessas crônicas, consegue ser atemporal, com especial atenção no que diz respeito a uma preocupação muito humana e filosófica: a vida X a morte. Caio Fernando Abreu vale a pena.
Peterso Rissatti
4 comentários:
"Estranho e sublime..."
Me deixou curioso, vou procurar.
Sou fã de crônicas e contos.
Não conhecia esse autor, mais um para as minhas pesquisas literárias.
Vou procurá-lo.
Abração.
Caio Fernando Abreu é tudo de bom!
Eu como leitora, crio com certos escritores uma empatia automática, foi assim que me fascinei pelo trabalho de C. F. Abreu.
Óptima dica.
Beijos.
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